ESCOLHI SER LÉSBICA TANTO QUANTO ESCOLHI QUE MEUS PULMÕES RESPIRASSEM
- Revista Alternativa LGBTQ
- 4 de jan. de 2023
- 2 min de leitura

por Nájla
Tenho convicção de que ser lésbica não é uma escolha. Inclusive tenho me questionado até mesmo se o processo de “assumir-se”, como costumamos chamar (não sei se esse seria o termo mais apropriado, apenas levanto uma reflexão sobre a qual não tenho resposta) seja uma escolha.
As nossas necessidades íntimas, profundas e as nossas necessidades vitais não são escolhas. Quando foi que nós, seres humanos, escolhemos sentir fome ou sede? Quem é que escolhe necessitar de um abrigo para dormir no meio de uma tempestade? Nós não escolhemos tais coisas, nós simplesmente precisamos delas.
Como é possível uma pessoa passar o tempo todo encenando uma personagem heterossexual, sabendo que aquilo que grita por dentro está sendo aniquilado e abafado? Se isso acontece, caras leitoras, não é porque as pessoas homossexuais sejam “falsas” e sim porque existe uma coisa chamada violência: física, psicológica, moral, religiosa, institucional, midiática, educacional, política, histórica, sexual, verbal, “científica”, doméstica, estrutural… Como suportamos?
Algum casal heterossexual é submetido à dor de querer segurar uma mão e não poder por conta do medo de sofrer alguma represália? Algum casal heterossexual conhece a dor de ter que passar o tempo todo escondendo seu par? E no caso das pessoas homossexuais, muitas vezes expulsas de suas famílias de origem, passa-se o tempo todo escondendo a pessoa mais importante de suas vidas, seu único porto seguro. Essas situações são completamente extenuantes e intragáveis.
Nós, lésbicas, quase sempre vivemos num estado permanente de fuga da realidade e de nós mesmas. Perdemos empregos, somos excluídas de grupos familiares e sociais, nos recusam afeto e morremos, apenas por sermos quem somos, simplesmente por conta da lesbofobia. Nós conhecemos o não-amor por conta de nossos amores.
Tratando-se da minha lesbianidade, afirmo que jamais pensei em fazer uma escolha para confrontar algo ou alguém. Eu apenas me permiti existir.
Nós, lésbicas, existimos.
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