MULHERES EM CENA- texto Simone Almeida
- Revista Alternativa LGBTQ
- 19 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
"Mulheres em Série opta por distanciar-se de uma visão hollywoodiana, que cria heróis, e aposta na identificação do público por meio da humanidade das personagens, tratando-as em seus conflitos, incertezas e erros, sem deixar de lado suas conquistas e sonhos."
Apresentação do site
Confesso que não é uma tarefa simples escrever um texto repleto de imagens marcantes , mas ao assistir “Mulheres em Série “ , a escrita fluiu para apresentar minha convicção de que a equipe ( e a Arte) cumpriu a função de reflexão sobre as situações em xeque onde a vida colocou para Rebecas, Nathálias ,Elaines ,Claudias, Palomas ,mulheres plurais refletidas em nossa sociedade ,bem como em qualquer ponto de nossa vida.

Na primeira temporada, o universo dessas personagens é apresentado de maneira cuidadosa e sensível, a narrativa é autoexplicativa. A técnica de utilização da tela escura apresentando o relato de uma mulher, que após evento traumático com seu parceiro inicia o processo para realização da série, desperta a atenção, pois há originalidade na apresentação da narrativa. Mais à frente, o equilíbrio entre as personagens nas situações de dor e enfrentamento nos é apresentado juntamente com um poema que nos abraça como alento. Há sensação de um limite a transpor, eis o que ocorre na 2ª temporada. As cenas fluem em ritmo intenso, a narrativa, de início, não cronológica é um elemento que prende atenção para o próximo evento, pois reforça o ritmo complexo das histórias. A trilha de suspense também nos guia no descontrole emocional de alguns personagens, a exemplo da cena onde uma das mulheres, recém saída de relacionamento abusivo, é esfaqueada pelo ex-boy. Enquanto isso a vida segue, e segue mesmo. A imagem da cadeirante com seu parceiro surpreende porque foge do clichê, o prazer é para todos, e na real, a naturalização de corpos não normativos apresentados na tela é um processo para pouco.

O episódio “Explícito” : ser forte diante da dor é poderoso ao mesmo tempo que é sensível .Estela liga o “foda-se” , uma tecla que toda mulher real em algum ponto da vida adota .A depressiva Priscila traz à tona sua dor com uma incrível expressão corporal ,seu olhar nos guia no mergulhar em seu mundo conturbado.

A 3ª temporada chega “escancarando a porta “. A cena da tortura chega a despertar o odor do momento tamanho seu realismo. Mais um convite para nos atentarmos à reflexão do contexto histórico-social dessas mulheres que não fogem à luta, seja no passado ou presente.
“Mulheres em Série “é uma série para inspirar o Resistir e o Re-existir.
Para complementar entrevistamos a diretora de mulheres em série, Renata Freire, confira.
ENTREVISTA

1- Quem é Renata Freire? E como é a Renata Freire diretora?
Renata Freire é uma mulher de 42 anos com muitas realizações, e muitas frustrações. E o meu melhor é a vontade de se reinventar sempre. Já a diretora tem um apelido “Malvada favorita ", com um update para "Odiosa ".
2-Quais os maiores embates para desmitificar a figura da "mulher padrão “?
Acredito que o maior embate para desmistificar a mulher padrão é apresentar o comum sem ser uma fala de lacração, sem ser a ideia de calar o que vem sendo dito. Sabe a mulher que eu represento no mulheres ela vai além de ser influencer rompendo o que é dito a muito tempo, esta mulher é foi evoluindo e esta evolução que é a melhor formar pra romper estes padrões.

3 -Qual foi o filme da sua infância?
Nossa eu fui criada assistindo filmes na tv, era muito raro ir ao cinema, mas lembro muito de filmes com O Vento Levou. Lembro de colocar o prendedor de roupas no nariz para afinar como no filme...
4 -Festivais e Mostras de Cinema são plenos canais de divulgação. Inscrever "Mulheres em Série " nos tradicionais festivais brasileiros como de Brasília, Gramado ou Mostra de São Paulo estão nos planos de Renata Freire e Equipe?
Este mês estamos focando nas inscrições em festivais, a meta é pulverizar Mulheres em vários festivais, este ano vamos abrir frente em festivais internacionais. Já temos legendas em inglês, espanhol e francês.

5 - Como foi o processo de criação da 1a e 2a temporada? E na terceira, com auxílio da Política Pública (VAI), qual foi o diferencial?
A primeira temporada penso hoje que foi um ensaio, tínhamos muitas ideias e nenhum dinheiro. Foi tudo reduzido, equipe, equipamentos e roteiro. Na primeira temporada o roteirista foi Zé Alberto que nos entregou três episódios, que no final viraram seis. Na segunda eu fiz o roteiro, estava no hospital fazendo transplante de células troncos, foi muito difícil, muito mesmo. Dobramos a quantidade de equipe, melhoramos os equipamentos, mas ainda sem nenhum patrocínio. Em 2019 ganhamos o edital vai II, e chegamos a um nível de qualidade muito alto. Tivemos 80 atores envolvidos em 16 episódios em um total de 150 pessoas. A maior diferença foi construir uma temporada cheia de histórias empolgante, fizemos um ótimo trabalho.
6 -Como foi sua trajetória no audiovisual na periferia de São Paulo?
Como o de qualquer idealizador e realizador de cultura na periferia, muitos sonhos, algumas realizações, e muito enfrentamento. A minha trajetória é vista em minha produção, e cada produção tenho um valor agregado de história e do tempo. Almejo que as minhas produções sejam conhecidas não meu nome, isso é o que realmente importa.

7 -Festivais Internacionais como Cannes, Sundance ou Berlim estão na rota de divulgação?
Sim, estamos atentos a estes festivais. Temos um bom projeto que pode ser aceito nestes festivais. Este é o ano de Mulheres em Série. Estamos aguardando as inscrições, pois o mundo mudou com a pandemia de covid-19, alguns foram cancelados e outros adiados.
8 - "É tudo verdade" é um festival de cinema documentário, há possibilidade de "Mulheres em Série " participar mudando o formato ou, é preferível permanecer em série?
Não temos intensão de mudar de formato, fizemos ficção e esta liberdade de fazer ficção é nosso maior trunfo. O É Tudo Verdade só aceita documentário, não vamos mudar este formato
9 - "Mulheres em Série " nos leva à profunda reflexão ao apresentar o cotidiano de mulheres plurais, reais em situações reais. O cinema, o audiovisual é uma ideia para posteridade. Como é e como está a mulher produtora e diretora de audiovisual inserida nesse contexto?
Pensamos que queremos discutir estes assuntos, queremos mostrar esta mulher que se aproxima como o nosso dia a dia, não importa muito a janela que serás distribuída ou divulgada, queremos contar estas histórias e continuar contado.
10- O que você gostaria de responder que Alternativa L não perguntou?
Gostei muito das perguntas, foi bem abrangente. A pergunta que quero responder é porque você escolhe falar sobre mulheres? Não é fácil falar sobre mulheres, tão pouco simplista, não cair em um clichê é um desafio e tanto, mas escolhi falar sobre mulheres que são facilmente reconhecidas em um supermercado, em um elevador, ou no transporte público. A mulher que tem dias que quer mandar todos irem se F#@@#**, ou a mulher que faz a melhor macarronada com frango. Estas histórias me rementem a um lugar de conforto, onde não existe heroína tão pouco vilã, existe a mulher se superando ou não para viver mais um dia. Falar de mulher me remete as histórias que minha avó contava de lobisomem e caveira, a simplicidade e a ternura. Acolhimento. Quem nunca ouviu estas histórias? Ter mulheres que não são da lacração ou que são, me faz ver o leque de possibilidades e de continuidade para várias temporadas de mulheres em Série.

para mais informações e acesso ao pod cast e aos episódios só clicar no clicar no link .
Comments